Na última performance que dei juntamente com o D1re_W0lf, uma pessoa da audiência perguntou porque fazíamos aquilo… que propósito?
É engraçado a curiosidade das pessoas acerca da dor e porque pessoas se envolvem em atividades que envolve sofrimento de alguma ordem, em especial em eventos abertos ao público e curiosos.
Para quem já está na comunidade ou simplesmente está envolvido em práticas de BDSM, o porquê de fazer nem nos passa pela cabeça questionar mas na realidade é algo que quem inicia ou tem curiosidade, tende a querer saber para perceber.

Porque fazemos isto?
A resposta simples e curta é: D1re_W0lf é sádico e Ana (eu) é masoquista, mas há nuances.
D1re_W0lf gosta de provocar sensações na Ana e Ana gosta de receber sensações do D1re_W0lf e a dor é somente uma das sensações. Eu, Ana, gosto que ele seja sádico comigo e me cause dor, gosto da expressão que ele faz quando vê o meu sofrimento, gosto do calor da pele dele na minha pele, e sentir que existimos num espaço no universo.

As perguntas fazem parte do processo! Perceber que existe mais pessoas no mundo que gostam de dor/sensações/troca de emoções (ou seja o que for) é natural e ajuda-nos a ter maior percepção de nós mesmo e aumenta o autoconhecimento.Saber que ter gostos e necessidades fora da norma, faz-nos bem e ajuda a desconstruir o que a sociedade ensina como “normal”, mas o normal é relativo.

Como masoquista e bottom, foi difícil e demorado a desconstrução mental em torno do gostar e aceitar dor; em volta do que as mulheres me ensinavam a não depender de outras pessoas principalmente de homens, a ser livre e não me submeter.
Gostar de dor não é normal nem comum, e somos ensinados e estamos treinados para não procurar a dor! Não tem de ser obrigatório para os bottoms e nem sempre é fácil aceitar que gostamos disso!
Nem sempre é fácil aceitar a dor, deixar a dor fluir e aceitá-la como parte de nós. Não lutarmos contra ela e abraçá-la de forma a sermos um todo – eu e a dor -, é uma aprendizagem e um aprender a lidar com o meu corpo, com os meus limites e com a segurança que sinto para comigo e com a outra pessoa.

Para pessoas kinksters, o ser normal é outro patamar de normalidade e sendo consensual, tudo é normal!
E aqui e sempre, a palavra chave é consentimento!

É tão interessante quando perguntam-nos questões que assumimos como explícito mas para muitas pessoas não é… A curiosidade é boa, positiva e o saber não ocupa lugar.
Porque não se faz mais perguntas?