Comecei há muitos anos a envolver-me em algumas práticas de BDSM, se bem que na altura e dado o acesso limitado a informação, nem sabia que aquilo estava englobado no mundo do bdsm.
Presumo que muitos tenham passado pelo mesmo…
Ao longo desses anos, mantive me recatada e sem usar o meu nome verdadeiro.
Na realidade conhecia algumas pessoas virtualmente e usando uma das minhas alcunhas (pessoais) que poucos conhecem,o que me dava alguma liberdade mas fazia com que eu fizesse uma ginástica mental enorme para nunca me descuidar.
Até chegava a mentir sobre a zona de residência para evitar ser conhecida.
Não tinha particular interesse em ser conhecida (ainda hoje não tenho) mas desejava mais a minha privacidade para me auto-descobrir e ir conhecendo a esfera do BDSM e relações inter-pessoais, percebendo o que me fazia sentido.
No entanto, e tendo bastantes tatuagens, sabia que o anonimato completo seria impraticável.

Sou contactada regularmente a propósito de usar nome real e se vale a pena.
Por isso deixo aqui as minhas considerações pessoais e baseadas na minha experiência de vida.
A minha exposição aberta e assumida surgiu por necessidade, para não ser intimidada por pessoas chantagistas e decidi não esconder quem sou ou mesmo o meu nome real, Ana Peres e tenho o nome em todas as redes sociais e até website.
Mas na prática que isto REALMENTE implica?

Pros
Não tenho que me esconder.
Não tenho que me preocupar se enganei-me ou não na conta da rede social X.
Não me preocupo se escrevi alguma algures, que denote a minha identidade.
Se alguém tirou uma foto de mim e vão saber quem eu sou – e tendo em conta que sou modelo e tenho trabalhos publicados e igualmente estou num anuário de tatuagem e piercing de Portugal…
Não tenho que me preocupar em mentir ou ocultar nada a familiares, parceiros, etc.
Chantagens e ameaças de divulgação da minha identidade pararam, para quase inexistente.

Contras
Mensagens indesejadas, constantes e inclusive de teor ameaçador dado que sabem o meu nome e, quer eu queira ou não, torno-me mais fácil de pesquisar e sofrer stalking.
Muitos homens admitem que não conseguem ter relação séria com alguém que admita ora fazer bdsm ora fazer fotografias com nudez.
Mais pessoas do que seria normal pensar, admitem não me seguirem nas redes sociais para não terem nenhuma ligação comigo.
Ameaças à minha integridade física.
Necessidade (possivelmente este factor é pessoal) de controlar quem me segue e os pedidos de amizade em todas as redes sociais.
A quantidade de perguntas sobre diversos assuntos de BDSM, feito por curiosos, que de certa forma é interessante mas também desgastante emocionalmente às vezes.


No entanto continuo a prezar muito a minha identidade, prezo muito a minha singularidade e em especial, sou recatada no que toca à vida profissional e até pessoal.
Tenho em atenção para que colegas de trabalho não saibam esta minha faceta ou caso saibam, que seja dito diretamente por mim, para eu ter o controlo e possa esclarecer possíveis dúvidas e questões, que têm sempre e assim posso falar com eles de forma natural e mostrar que é algo normal e não tenho vergonha de.
De forma semelhante, não divulgo em lado algum a empresa onde trabalho por motivos de segurança e confidencialidade.


Resumindo, o que resulta ou não, o que é melhor ou não, é extremamente subjetivo.
Admito que certas alturas, sinto que seria benéfico ninguém saber que eu sou, pelos olhares, pelos contactos indesejados, pela própria discriminação que sinto em relação a parceiro(s) do foro mais íntimo ou romântico.
O facto de haver mais do que um homem, a dizer-me que nunca conseguiria assumir relacionamento comigo por isto, é um dos factores contra a exposição de identidade, que eu sinto. Não que os julgue mas por sentir-me algo julgada e até perceber que têm uma certa vergonha de mim.

Se faz sentido ou não divulgar a vossa identidade, seja o nome seja o rosto ou corpo, deve ser um ato consciente, ponderado e muito bem analisado.
Não só mesmo dentro da comunidade como fora dela.
Mesmo dentro da comunidade há quem seja mero mirone e tenha pouco interesse em fazer realmente parte da comunidade e tenha mais interesse em saber detalhes sobre os outros para proveito próprio.

Não há uma regra que funcione para todos, por isso que a decisão seja feita de coração e consciente de todos os benéficos e prejuízos.