Dizer não, acarreta um poder único. Faz-nos recentrar, repensar e reavaliar.

Ao longo dos anos, tenho estado afeta à promoção de eventos (inclusive na minha vida pessoal/profissional) de cariz social, e no mundo Kinky, aos poucos comecei a organizar munchs e workshops. Faz parte da minha maneira de ser, de querer ajudar e promover a informação e conhecimento entre as pessoas.

A nível profissional, sempre que organizava algo tinha uma ideia base em mente, um propósito e facilmente cingia-me a ele sem ter que advogar o ideal externamente. Tinha uma causa, um motivo claro e tão explícito que silenciosamente o evento gritava ao mundo. Obviamente que quem não se sentia impelido pela causa, não vinha aos eventos. Claro!
Em 14 anos a organizar eventos, não tive que ponderar sequer a ideia de dizer que não a alguém.

No entanto, a nível kinky, as premissas são outras, a forma de estar é completamente outra..
Recordo um post que Caritia publicou nas suas redes sociais a propósito do seu projecto Karada House e marcou-me. Ela extensamente escreveu como o facto de ter um ideal, uma missão para o seu projeto, perdeu amigos, perdeu seguidores, teve que dizer que não a algumas pessoas para conseguir cumprir a missão e valores que ‘desenhou’ para o projeto. Mas ao mesmo tempo, ganhou novas ligações a novas pessoas que se reviam nos pilares que Karada House promove e, teve que manter-se firme e segura de si mesmo contra quem era bastante vocal contra as suas premissas. Faz parte.

Quando criei o KNOTY, pensei que a minha filosofia, missão e valores que estruturei para o projecto fosse claro. E são!
Inicialmente nem ponderei a ideia de ter que dizer que não a alguém. Quem viria a um evento privado meu com ‘outras’ intenções? Que sentido isso tem?
Mas a verdade é que sim, acontece. Como tal, a dado momento do projeto tive que repensar-me, tive que recentrar-me e ser fiel à missão que tinha me proposto. Os valores e missão que desenhei para o KNOTY continuam a fazer-me sentido e como responsável que sou por ele, pela sua vivência e estabilidade, tive que fazer escolhas.

Tive que auto-preservar-me em vários sentidos…
E tive que dizer não de forma a proteger não só o projeto como às pessoas que usufruem do projeto e esperam um determinado espírito, um determinado conjunto de valores nos quais se revêem.

Aprendi à minha custa, do meu nome, do meu bolso, que tenho que dizer que NÃO. E isso implica: convidar pessoas a sair dos meus eventos, não permitir a inscrição de A ou B, nem que sigam as minhas redes sociais.

Porque eu aprendi que há quem se dê ao trabalho de ir a um evento (seja presencial seja virtual), perder tempo da sua vida só para “ver”, só para falar mal, só para tentar recrutar novas pessoas para os seus Doms ou seus projetos. Só para denegrir.

Quando tens um projeto, uma casa, uma dungeon, seja o que for, tens que preservar os teus ideais e a missão a que te propuseste a esse projeto, certo?
É fácil? Não, é extremamente difícil. É necessário uma constante verificação interna de atitudes e ideais, nem sempre se consegue. Eu não consegui sempre e sei que foi por mera ingenuidade. Quem vai a um evento de alguém que não acredita no evento/no projeto?
Quem irá querer ir a um evento de um projeto que não acredita em?

Eu não percebo. Tive que aprender a dizer Não, coisa que em 14 anos a organizar eventos de cariz social nunca tive de fazer, pois nunca houve necessidade.
Mas a comunidade kinky, facilmente se perde, facilmente tenta destruir tudo e todos… E as pessoas mal intencionadas, não olham a meios de se fazerem prevalecer.

Imagem gerada por Ai em canva.com