Recentemente deparei-me com uma dificuldade em sentir-me conectada com o meu lado submisso e sentia que algo não estava bem em mim – que não deveria sentir-me assim e sentia-me menos submissa que as restantes pessoas submissas.
Foi preciso falar e desabafar com outras pessoas submissas para perceber que não estava sozinha nesta dificuldade e havia mais pessoas pelo mundo fora com ‘esta dificuldade’ em conetarem-se com o seu lado submisso.

Isso faz parte do processo e é ok, porquê?
Antes de mais, somos seres humanos.
Temos uma vida profissional, estruturas familiares e afetivas de várias ordens e níveis que mexem connosco. O nosso humor não é linear e pode ser influenciados por motivos como hormonas, stress, trabalho, enfim, tantas variáveis que é difícil mencionar todas.

Igualmente, podemos (e na maioria dos casos temos mesmo) mais do que uma estrutura / role no bdsm.
Tanto podemos nos rever no role de sub, como em brat, slut, little, baby, etc. E este roles podem variar em nós de forma oscilante e interferir com o lado sub, no entanto nada isso implica que deixamos de ser submiss@s por isso.

O que fazer nestes casos?
Primeiro pensar que ter outros roles mais ativos um dia do que outros roles, não faz de nós menos subsmiss@s. A nossa submissão é tão válida hoje como ontem ou amanhã.
Segundo, analisar o que sentimos e o que nos leva a pensar ou agir assim.

O que pode ajudar-nos a reencontrar a conexão?
1 – Auto-análise
Ter uma verdadeira ideia do que se passa fisicamente, emocionalmente e intelectualmente connosco, é essencial em diversos motivos. Não só para sabermos o que se passa connosco como para pudermos partilhar e comunicar eficazmente com o(s) parceir@(s).
A bem da verdade, é muito difícil chegarmos à raiz da questão mas a auto-análise é importante e aceitarmos o que sentimos é igualmente importante.

2 – Missão de vida
Escrever a nossa missão de vida enquanto submiss@s. Este ponto foi-me descoberto muito recentemente e (admito) que teve um impacto gigante em mim e na minha auto-análise enquanto pessoa e kinkster.
Escrever onde desejo estar, os meus objectivos, missão de vida submissa, foi como que meter em papel e validar interiormente a minha posição.
O reafirmar-me enquanto sub e saber o que sou, onde quero ir e os meus desejos, foi importante e apaziguador.

3 – Falar com…
… outras pessoas subs, para ter um apoio entre os pares da nossa comunidade (local ou global).
… com profissionais de saúde mental, especialmente se forem kinky friendly e consigamos ter uma conversa honesta, sem recriminação ou julgamentos sobre o nosso estilo de vida bdsm.
… com os nossos parceiros, para que eles percebam o que estamos a sentir e possam (de alguma forma) ajudar.

4 – Mantra de vida
Há quem utilize um mantra para interiorizar que ‘estas fases’ são positivas e até podem ajudar-nos a reencontramo-nos enquanto pessoas e enquanto submiss@s.
Escreva algo que lhe faça sentido e repita várias vezes ao longo dia ou quando está a precisar de algum apoio.
Se não souber o que escrever, peça a alguém da sua intimidade e confiança para escrever algo para si e que seja positivo e familiar.
Ter um mantra escrito por outros para nós e sobre nós, pode inclusive ser a solução neste ponto do Mantra, dado a nossa posição de submissão.

5 – Somos pessoas
Relembrar que somos pessoas e a nossa submissão não é universal, constante ou para quem a quer mas para quem nós queremos e quando queremos.
Faz parte do processo, demorar algum ou muito tempo para confiar em alguém e que consigamos entregar a submissão nem que seja gradualmente. A entrega pode ser um algo moroso e que dependa de vários factores.
Todas as fases e estilos de submissão são válidos, se for consensual e respeitado por todos os envolvidos.

6 – Ouvidos surdos
Muitos irão apontar o dedo, dar a opinião sobre o que acham ou denegrir com base das suas próprias ideias e estruturas bdsm.
É importante saber filtrar as opiniões e mantermo-nos fiéis a nós, à nossa missão de vida e aos nossos valores.

Todos somos válid@s!