Há muito que as mulheres têm um sentimento de culpa associado ao sexo.
Historicamente, as mulheres foram sempre educadas a não expressar desejos, vontades sexuais e parece que – no nosso gene – está intrínseco o receio de o fazer e verbalizar desejos sexuais.
Ao longo da história, as mulheres eram usadas como moeda de troca, como escravas sexuais, como objetos de uso e foram precisos milhares de anos para que a sociedade criminalizasse esses comportamentos. A integridade física das mulheres e crianças, sempre foram um ponto fraco da sociedade e nós, enquanto mulheres somos educadas a preservar a integridade e mantermo-nos alertas. No entanto, a sociedade ainda recrimina (ainda que discretamente) as mulheres que admitem gostar de sexo.

A nossa história está cheia de relatos de crimes horríveis… estou a ler um livro como a violência tem diminuído ao longo dos milénios e como essa diminuição melhorou o bem-estar geral dos seres humanos e um dos pontos mencionado no livro é a criminalização de crimes contra as mulheres, o que me motivou a pensar e escrever sobre este assunto. E como, mesmo na comunidade de bdsm, que se espera mais aberta, mais livre de preconceitos e julgamentos, não está isenta de atribuição de culpa e até chega a ser mais controladora e julgadora do que a comunidade fora dela (a dita baunilha).

Curiosamente (no sentido que não tem nada de curioso), quem mais é julgador e vocal na recriminação, no apontar dedos e rebaixar as mulheres são outras mulheres. Mesmo dentro da comunidade bdsm, esta é uma realidade! São as mulheres que mais repreendem outras mulheres. Não deixa de me espantar como as mulheres são mais agressivas, mais acusadoras para com outras mulheres (espantosamente nem tem que envolver sexo ou intimidade).

Como mulher que sou e como mulher que ultrapassou traumas sexuais, nada é mais libertador do que conseguir desfrutar em pleno da minha sexualidade. Conseguir admitir que gosto de sexo, que faço sexo e que tenho drive sexual sem vergonha, é algo LIBERTADOR!
Trabalhei imenso comigo mesma para conseguir ultrapassar estes traumas e consigo perceber como muitas outras mulheres o fizeram e consigo valorizar outras mulheres que admitem a sua drive sexual sem vergonha.

É verdadeiramente libertador!
Não ter que restringir a nossa mente, vontade e capacidade de envolvermo-nos com outros a vários níveis, quebrar estigmas muitas vezes mentais. Barreiras mentais!
É uma batalha interna que muitas mulheres travam e ultrapassam e é, imensamente triste que quando essas mulheres conseguem ultrapassar preconceitos, traumas e perdem medos, são outras mulheres que acusam, denegrem-nas e humilham-nas!
Torna-se um ciclo vicioso e que é perpetuado por mulheres.

Mulheres que podiam ter muito a ganhar com a libertação e consciencialização da sociedade em geral para a libertação sexual da mulher.
Mulheres que, ao longo dos milénios, foram suprimidas e rebaixadas e humilhadas, por homens, hoje em dia, são-no por Homens e Mulheres.
Mulheres que têm prazer em denegrir outras mulheres.
Mulheres que não se apoiam mutuamente e lutam em conjunto para acabar com preconceitos.

Talvez daqui a muitos, muitos anos, as mulheres tenham mais abertura na sociedade, mais proteção e apoio mútuo.



Nota
A minha experiência pessoal não implica que tenha sexo com todos os que cruzam-se comigo ou contactam-me, ou fazem solicitações!
Dado os meus imensos traumas, sempre tive mais precauções e mais inseguranças. Ter drive sexual não é linear e proporcional a estar sempre disponível a…