Novidade… tudo ser novo, excitante e por descobrir, não saber como começar, não saber termos e afins, tudo isso faz parte da jornada de qualquer pessoa.
Querer fazer e experimentar é outra fase que faz parte do processo de qualquer pessoa kinky, que não sabe se gosta de A ou de B, faz mesmo parte. Muitas vezes nestas descobertas, percebe-se que afinal a fantasia X não corresponde à nossa expectativa e não é algo que queremos fazer ou repetir (pelo menos tão cedo e também faz parte mudar de ideias).

Mas a pressa de querer fazer é uma faca de dois gumes…
A ânsia de encontrar alguém para fazer plays, tende a levar ao frenesim. Quanto mais se contacta pessoas e não há click, menos paciência e ponderação as pessoas tendem a ter. Contactar e ativamente procurar alguém, a meu ver, é algo normal e só mostra proatividade – nada de mal aí, se for feito com pés e cabeça, se for feito de forma educada, respeitosa.
O problema surge quando é feito de forma frenética e descontrolada!

O frenesim é mau para todos.
Quem anda num frenesim à procura de parceirx, tende a enviar mensagens massivamente, sem querer saber do role e disponibilidade da outra pessoa. Enviar mensagens massivamente a alguém porque quer “domme” para se iniciar (ou qual seja o motivo), não quer Domme. Quer uma pessoa, qualquer que seja para ter sexo (que possivelmente na sua cabeça, sexo está intrínseco ao BDSM) e se pelo menos uma pessoa das 100 a quem enviou mensagem, responder positivamente, o saldo é positivo, pois o esforço de fazer copy/paste é quase zero; o esforço de ler o perfil e perceber se aquela pessoa a quem está prestes a enviar mensagem tem gostos ou é alguém que possivelmente encaixa consigo, é zero. Houve zero esforço da parte da pessoa e se uma em 100, responder, só tem ganhos.

Mas é aqui que o verniz estala.
Alguém que dispara mensagens a todas as mulheres (inclusive NB, inclusive a bottoms, slaves e outros roles do lado submisso) numa ânsia de procurar uma Domme, não procura uma Domme e dificilmente irá desta forma encontrar uma Domme para uma relação mais longa do que uma noite.
Sendo eu uma pessoa do lado submisso, recebo mensagens em todas as minhas redes sociais de outros submissos (diria que 99% são homens) que procuram dommes (sim dommes com o d minúsculo), e estas pessoas sabem que eu sou sub e não querem saber… as frases são escritas em tom de elogios muito eloquentes (acham eles) mas totalmente desfasado do objetivo.

Ora se eu fosse uma Domme, obviamente que não iria ponderar ter algo com alguém que notoriamente enviou aquela mensagem a mais 100 Dommes.
Ora se o objetivo daquelas pessoas é arranjar alguém para ter uma relação que não seja passageira, o frenesim de encontrar alguém seja quem for, é um cancro!
O frenesim mina toda e qualquer possibilidade destas pessoas encontrarem alguém que perceba que aquele submisso é responsável e cuidadoso. Que é-lhe dedicado.

Eu não sou Domme mas, desse lado, quem é Dom(me), digam-me, este tipo de contactos e postura é algo que resulta convosco?

Voltando ao frenesim…
O frenesim é um cancro!
Mina o raciocínio, mina a auto-responsabilidade e ‘accountability’.
Estando ou não, numa relação Ds, nós submissos somos responsáveis por nós em última instância. O frenesim se interferir com a nossa capacidade de ponderar, analisar e falarmos em prol do nosso bem-estar, estamos a nos prejudicar.
Numa relação Ds, ambas as partes querem o melhor para ambos, é um dever da pessoa Dominante cuidar da pessoa submissa e vice-versa. Esta relação é simbiótica e proveitosa para ambas dentro dos moldes que as partes envolvidas definem.
No entanto, nem sempre isso acontece, nem sempre uma das partes tem ‘o coração no sítio certo’ e caso a pessoa Dominante em algum momento não pense no bem estar da outra pessoa (seja por ego, por descuido, por engano), nós temos de ser responsáveis por nós e cuidar de nós. Temos de nos proteger e verbalizar.
Ora se estivermos num frenesim, queremos é fazer e se houver uma situação em que deveríamos vocalizar e o frenesim interfere, o frenesim é mau para ambas as partes. Mau para a pessoa Dominante como para a parte submissa.

Vamos ser realistas, o frenesim atinge todos os lados – dominante e submisso.
E seja ‘praticado’ por submissxs como dominantes, é um estado mental perigoso.

Mais, este estado mental é prejudicial a comunidade como um todo!
Ao longo dos anos tenho visto pessoas prejudicarem-se pela dita ânsia. Numa ânsia de conhecerem pessoas, apegam-se à primeira pessoa que surge, ficam ‘amigxs’ – os melhores amigxs de sempre logo na primeira semana, contam tudo e até trocam informações pessoais com perfeitos desconhecidos… mas a fase ‘melhores amigxs’ duram muito pouco quando as pessoas num frenesim juntam-se unicamente por terem objetivos de ‘sexo’ com as amizades. Nada de mal, não digo isso, em querer ter sexo. Mas pergunto, são realmente amigxs (e uma amizade quer-se sem intenções secundárias) quando o intuito final é sexo? Se calhar serem verdadeiros nas suas intenções, ajudaria a todos os níveis (não?).
Mesmo nas ditas amizades, o frenesim é cancerígeno… mina as relações inter-pessoais. E mina os egos, inflama as relações e destrói núcleos de amizade.

Quem não passou por isso?
Todos (e se alguém dizer que não, mente) já passámos pelo estado inicial de descoberta e exploração. A fase de conhecer pessoas e ter dúvidas. Faz parte!
A fase de deslumbre com um grupo de pessoas que parece mesmo porreiro, mas afinal são um ninho de cobras, faz parte. Infelizmente, faz mesmo parte.
Também faz parte crescer e aprender com os erros.
Errar e achar que a ‘próxima experiência vai ter o resultado diferente usando a mesma ‘técnica’ é um erro. É um erro achar que as pessoas não se conhecem e trocam impressões fora dos grandes grupos.

O frenesim é mau e bom!
O frenesim faz parte, faz parte da descoberta, faz parte da desilusão para com a procura de parceirxs. faz parte…. Mas não é bom.
Com o tempo percebesse que nada vale a saúde mental, física e financeira.