Haverá uma voz, um tom que denote o sentimento de submissão?
Ao longos dos tempos é algo que tenho pensado e debatido internamente – que voz podemos ter para usar a nossa submissão?
A submissão pode ter diversas layers e diferentes formas de ser vivida e sentida, que pode mudar com o tempo, com a própria pessoa ou no conviver com outra pessoa.

Mas pode haver um denominador comum?
Enquanto bottom, eu uso a minha voz para pedir e partilhar desejos e vontades minhas, perguntando ao parceiro se “faz te sentido isto? Fazer isto”? Eu pergunto se a outra pessoa está disponível para fazer comigo algo. Para vivermos algo juntos. Costumo dizer que “sou uma bottom proativa”.
A forma como o fazemos demonstra a nossa submissão e respeito para com o outro. Não é o facto de sermos uma pessoa que está no espectro da submissão que deixamos de ser pessoas com desejos e vontades.

Sem atacar ninguém, há vozes que exigem algo da outra pessoa e sim, não são vozes de submissão, são vozes de exigência, de falsa submissão, de controlo sobre outras pessoas.
Uma pessoa submissa enviar mensagem a alguém completamente random a dizer “quero que me domines”, “quero que me faças ISTO e AQUILO” não está a usar a sua voz de submissão, nem tão pouco está a ser uma pessoa submissa. Está a exigir, a mandar e controlar a situação. Da mesma forma que uma pessoa se considerar brat e estar constantemente a dar ordens e minimizar as suas atitudes como ‘sou demasiado brat’. Mas quanto ao ser brat, fica para outra altura.

O que é submissão?
A submissão é um vasto leque de sensações/desejos/sentimentos. Passa por agradar outrem, fazer algo por outrem e isso não implica que tenhamos de abdicar de nós se assim não quisermos.
Isso também se aplica a vários tipos de submissão, ora os serviçais, as pessoas que gostam de fazer tarefas pelos outros sejam essa tarefas administrativas ou domésticas, ou pessoas que gostem de ser controladas e comandadas por uma pessoa dominante.

A submissão pode ter limites?
Sim, pode. As relações Ds pode ser diferentes em estilos de dominação.
Há as PPE e as TPE, por exemplo. PPE implica que há uma troca de poder parcial por parte da pessoa submissa, mas o que isso implica mesmo? Várias coisas, por exemplo que alguém permite e acorda que a sua pessoa dominante controle a sua vida excepto a sua vida profissional por exemplo. A troca de poder é negociada e os limites bem estabelecido até onde a pessoa dominante tem a permissão da pessoa submissa em controlar.

TPE implica que a pessoa dominante controla a vida da pessoa submissa no geral. Este tipo de relação é diferente da relação de slave (ou escravo) pois numa relação TPE a pessoa submissa tem direito a negociar, renegociar, verbalizar os seus desejos e existem palavras seguras. Já numa relação de Master/slave as premissas são outras.

Apesar deste texto não incidir sobre as relações de Master/slave, fica somente a indicação que nestas relações, a pessoa slave abdica por inteiro da sua existência e deixa de ter direito a opinião, desejos e nem existe palavra segura a usar durante as plays. Obviamente que estas relações não acontecem de um dia para a noite, é necessário um longo e profundo conhecimento mútuo, um estabelecer de respeito e ligação para que a pessoa escrava sinta que a sua devoção à outra pessoa faz sentido e coloca a sua vida na mão e vontade da outra pessoa.

Se pensarmos bem, todas as pessoas submissas colocam a sua vida e o seu bem estar na mão da outra pessoa, daí ser tão importante sabermos que seremos respeitados e seremos ouvidos e compreendidos. No entanto, no caso de slaves, uma vez estabelecida a relação, o slave deixa de ter direito a ser ouvidx. Este tipo de relação faz sentido para algumas pessoas e apesar de – pessoalmente não me fazer sentido – respeito profundamente quem o seja.

Mas voltando ao tema…

Como usar a voz de submissão?
Antes de mais, saber se a outra pessoa está disponível para fazer (seja o que for) e se o role da outra pessoa está no outro lado da balança do seu próprio role, ou seja um sub não deveria pedir a outro sub para fazer uma play.
É importante que não sejam vozes de exigência.
Verbalizar desejos não implica descrever detalhadamente as plays mas mostrar interessem em fazer algo, mostrar-se disponível para experimentar. E se a pessoa dominante estiver de acordo, aí sim pode-se negociar os limites e não-limites, etc. Falar de igual para igual, sem posições ou roles e de forma a que ambas as partes se sintam confortáveis.
Sim, ser submissa não implica ser uma pessoa que não fala ou reage, se for necessário e se quiseres, deves verbalizar. Ninguém é submissx-tapete se não o quiser, nem deixes que te tratem assim, se não for a tua vontade. Impor limites ao modo como te tratam também é usar a tua voz de submissão, para teres respeito que sentes que seja ideal para ti.

Nem sempre é fácil saber que tipo de submissx somos, sê fiel a ti mesmx e percebe o que faz sentir bem e feliz.
Além disso, o teu role pode mudar com o tempo e isso é ok.