São caixas e caixinhas. Ora pois são!
Roles são caixas com etiquetas onde sabemos o que cada uma é, o que significa e – a beleza de tudo – é que podemos comunicar melhor ao saber o que a caixa quer dizer.
Os roles são isso mesmo, etiquetas!
E como etiquetas ajudam-nos a perceber o que somos, e como são os outros.
Pessoalmente sou muito fã de roles e destas caixas!
Eu tenho uma caixa principal e várias secundárias, com que me identifico. Estas caixas ajudam-me a saber o que sou, o que me motiva e dá nome ao meu role, à minha motivação e compreensão do role:
Ora eu sou bottom, não me identifico como sub e esta distinção é relevante a vários níveis.
Alguém que interage comigo sabe que sou bottom, se a outra pessoa souber a definição de bottom, ajuda-nos a falar, saberá que não estou predisposta a X, que não estou ligada a protocolos, etc.
Os roles têm o poder de desmistificar! Clarificar dúvidas.
Agora pergunto, quantos de vocês tiveram dúvidas do que eram, do que gostavam e de onde se enquadravam?
Quantos de vocês encontraram na definição de um determinado role, o esclarecimento das vossas dúvidas?
Eu levanto o braço! 🙋♀️
Eu tive dúvidas, questões e a descoberta das definições dos roles e sub-roles, ajudou-me a perceber-me, a identificar gostos, kinks e o que era mais ajustado para mim enquanto kinkster.
Por outro lado, o descobrir dos roles e o que cada um deles define pode ser uma etapa difícil, muito difícil.
A título pessimista, digo que na maioria das vezes, o descobrir das definições e na real definição delas, parte do círculo de conhecidos que temos. É o nosso círculo que determina enormemente a forma como iremos reconhecer os roles, definições, saber distinguir kinks de fetiches, além de conseguirmos reconhecer sub-roles como válidos.
Não nos podemos esquecer que a maioria dos kinksters não se revê em roles únicos e principais. Temos várias camadas e layers de gostos que se enquadram em vários roles.
Num sentido ainda mais restrito, a identificação dos roles também depende de como esse mesmo role é validado pelos pares.
Se alguém se identifica como bottom mas o seu círculo de conhecidos, desvaloriza o perfil de bottom, possivelmente essa pessoa vai optar por submissx, quando na sua essência pode não o ser. E passar anos a esforçar-se por se encaixar numa caixa que não lhe enche as medidas e não reflete a sua essência.
E esta ideia é replicável em outros tantos roles e definições.
As caixas, caixinhas, roles e sub roles, fazem falta e validam sentimentos e maneiras de estar no BDSM.
O kinky shaming em torno de (certos) roles vem de longa data, é intrínseco. O BDSM enquanto forma de estar e viver, deveria ser lato e mais incluso, mais amigo de diferentes formas de estar, ser, interagir e comunicar, em vez que reduzir as pessoas a categorias que não as reflete nem as valida.
Nós enquanto, kinksters somos por natureza, humanos que fogem da norma e em vez de aceitarmos as diferenças dos outros, marginalizamos sistematicamente quem já se sente diferente e desenquadrado.